Portugal está na génese da cachaça, mas cerca de meio milénio depois perdemos bastante o contacto com a segunda bebida mais consumida no Brasil, a seguir à cerveja. Por isso achámos justo e necessário o Bartwist acompanhar uma masterclass sobre cachaça, organizada pela Cachaciá Brazil. A aula decorreu no Boteco Dona Luzia em Lisboa, num dia de verão bem quente, e o ensino esteve a cargo de uma dupla brasileira que sabe tudo sobre a bebida.
Maurício Maia ensinou bastante sobre cachaça e Edu Ribeiro fez cocktails deliciosos, incluindo uma novidade, o Tropical Brazil. Este cocktails foi idealizado para combater a moda do gin e parece ter argumentos para isso. Além de um sabor agradável e original, o Tropical Brazil permite, no final, saborear as fatias de ameixa e coco que estão no interior do grande copo em que é servido.

A masterclass promovida pela Cachaciá envolveu ainda a prova de sete diferentes cachaças de produção artesanal. “Provar” é mesmo o melhor termo porque este produto tem um teor alcoólico que facilmente ronda os 40 graus. Por isso a organização recomendava ir bebendo água entre provas e comendo um pouco de pão…
Uma coisa ficou comprovada: nenhuma cachaça tem um sabor igual a outra, fruto do efeito das diferentes madeiras com que são produzidas. No Brasil são utilizadas mais de 34 madeiras diferentes. Uma delas é a madeira amendoim – não confundir com madeira dos amendoins que todos conhecemos.

Esta enorme variedade de madeiras proporciona que cada garrafa seja um universo de sabores merecedor de descoberta. E o mestre Maurício Maia insistiu várias vezes que, mesmo usando a mesma madeira, o resultado final é sempre diferente.
De volta ao início desta história, a cana de açúcar é originária da Nova Guiné. Os portugueses levaram-na da Ilha da Madeira para o Brasil, no início do século XVI. Rapidamente, as terras de Vera Cruz tornaram-se no maior produtor mundial de açúcar, título que o país ainda hoje mantém.
A cana de açúcar é uma riqueza que não permite apenas produzir açúcar e cachaça. A sua utilização principal é na produção de etanol, que no Brasil serve de alternativa à gasolina e ao gasóleo como combustível automóvel.
A nível global existem vários destilados de cana de açúcar, mas apenas o Brasil pode produzir cachaça, bebida que só é destilada uma vez e feita a partir de caldo de cana de açúcar fresco. Esta pode ser envelhecida em barricas de madeira, em tanques de inox ou simplesmente engarrafada logo que é produzida.
Existem cerca de quatro mil produtores estabelecidos no Brasil, mas calcula-se que cerca de 30 mil façam esta espirituosa de modo informal. Trata-se de um sector que contribui com mais de 600 mil empregos diretos e indiretos e este é o produto manufaturado que paga mais impostos (o tabaco vem logo a seguir).

O Brasil produz cerca de 1,3 biliões de litros por ano. Mas, apesar de toda esta pujança, o país meramente exporta 1 a 1,5% do que produz. A produção é fortemente regulada pelo Ministério da Agricultura brasileiro. Um exemplo: a cachaça artesanal não leva açúcar, mas a lei diz que a industrial pode levar até 6g por litro. Se este limite for ultrapassado, então o produto tem de ter a indicação de “cachaça adoçada”.
Uma coisa é certa: melhor do que saber mais sobre esta espirituosa é mesmo provar os variados sabores que a cachaça oferece. Fique com a sugestão do cocktail Tropical Brazil, que divulgamos na nossa secção Receitas.